Time grande cai também

Nos últimos anos, pouco comento sobre o futebol aqui. Mas quem de fato me conhece, sabe da paixão que tenho pelo Cruzeiro. Eu e mais de 9 milhões pelo país e pelo mundo.
E você deve também imaginar o quanto de brincadeiras tenho ouvido nesses últimos dias em virtude do rebaixamento da equipe para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Primeiro, minha condição de torcedor não vai mudar por causa disso e, segundo, as brincadeiras, tirações de sarro são o grande barato do esporte. Vejo até como uma forma de rir da própria desgraça, aliviando a dor.
Vamos lá, analisando mais a fundo, com a propriedade de quem acompanhou boa parte dos jogos do time, tenho que admitir que o rebaixamento seja a melhor forma do clube de reerguer. O Cruzeiro não se apequenou apenas como time de futebol, mas como instituição. Ainda que não tenha perdido nada neste âmbito geral, o clube se afundou em uma areia movediça de uma administração muito mal conduzida, com salários estratosféricos, questionamentos judiciais, casos de polícia, entre outros. O descenso é um atestado de tudo isso. 
Agora, vamos focar no time de futebol. O Cruzeiro de Mano Menezes, com todo o respeito ao técnico, nunca me convenceu. Ganhamos campeonatos, sim, mas sempre de forma extremamente retranqueira. "Cuidado", "proteção" - termos tão usado pelo técnico, são totalmente fora do DNA da história de um clube que teve muito mais meias ofensivos e atacantes de destaque em sua história do que zagueiros.
Cada jogo era um semi-ataque cardíaco. E o "Deus dos contra-ataques" muito nos ajudou nas partidas, vide a final da Copa do Brasil contra o Corinthians. Mesmo assim, sempre ficava uma sensação de um time demasiadamente acuado, com laterais covardemente pregados na defesa, volantes que precisavam aliar a força da defesa com a habilidade do passe - só que são poucos os que têm este perfil.
Ainda assim, o time contava com inspirados Thiago Neves e Robinho, que decidiram jogos importantes. Uma dupla de zagueiros bem eficiente, como Dedé e Léo e um goleiro consistente e muitas vezes milagreiro como o Fábio. 
O alerta financeiro começou a soar e Rafinha, Raniel, Romero foram vendidos no desespero. Arrascaeta foi vendido e o valor de sua venda desapareceu em meio à tantas dívidas. Contratos mal negociados, recados na imprensa, investigações policiais divulgadas na tevê - era o início do fim.
Ainda assim, o clube mantinha um isolamento externo das questões perante à Imprensa. Tudo era mentira, tudo era complô de uma oposição, tudo estava maravilhoso.
Com Mano, de 54 pontos disputados no Brasileiro, a equipe somou apenas 1. Ainda assim, o técnico foi mantido. Foi necessário que Mano apontasse a sua própria incompetência e abdicasse da sua tradicional teimosia, após o primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil perante o Internacional, e após uma eliminação de Libertadores perante o River Plate, indicando a sua saída, para a diretoria buscar um novo nome.
Rogério Ceni sinalizava uma correção de rota. Inacreditavelmente, o técnico, que também não deve ser de fácil relacionamento, foi fritado pelos jogadores com a conivência da própria diretoria, ainda que Ceni tenha se oferecido para trabalhar sem vencimentos para tirar o time da já incômoda posição de rebaixamento.
Surge o nome de Abel Braga e sua fama de paizão, amigo dos parças. Abel foi fiel ao adjetivo, não substituiu nenhum deles, e ainda manteve um jogador totalmente fora de sintonia, David, que junto a Fred, Edílson, Egídio, Robinho e Thiago Neves conseguiram desperdiçar duas chances de vitória em casa, contra o então já rebaixado Avaí e contra o na época virtualmente rebaixado CSA. Este jogo aliás, com requintes de crueldade. O time perdia por 1 a 0 e tinha um pênalti a favor. A cobrança foi desperdiçada por Thiago Neves. Era sofrimento demais.
Ainda assim, a torcida jamais deixou de comparecer, dar a sua força. Porém o time não correspondia, uma equipe com a "bola queimando no pe", extremamente tensa, desencontrada. O enredo estava pronto e o jogo contra o Palmeiras só confirmou tudo. Ainda que sonolenta e desinteressada, a equipe paulista venceu por 2 a 0.
Aquele ditado pessimista que afirma que "nada pode estar tão ruim que não possa piorar" se fez valer, com vândalos acabando com o maior patrimônio esportivo dos Mineiros. O Estádio do Mineirão destruído pagou a conta, e quem vai arcar com isso? Claro que você já sabe.
A nova realidade é de jogos em campos pequenos, com sufoco de equipes menores, e uma pressão enorme pela volta. Diferente de outros clubes grandes que já passaram por esta dificuldade, a situação do Cruzeiro é a pior de todas, correndo um sério risco de ficar na série B mais tempo, já que a readequação financeira será grande para tentar amenizar uma dívida de mais de 700 milhões de reais. A não ser que apareça algum mecenas, o futuro do Cruzeiro não é de volta à série A tão cedo. E o mais assustador é que muitos da diretoria que afundou o time, seguirão o ano que vem. E pensar que há pouco mais de um ano, o clube vencia a Copa do Brasil. 
Com todo o respeito, o Cruzeiro como instituição se coloca em patamar de clube de série B mesmo, embora um iludido técnico Adilson Baptista fale que a equipe precise pensar em ser campeã do mundo, não, não precisa e não deve.
Orçamento de série B, manter-se na série B - pois é difícil crer que, caso consiga voltar, a equipe consiga se manter na série A. O Cruzeiro precisa pensar no presente, e atualmente ele é time de série B. O rombo financeiro do clube não se resolve em um ano. Então, a previsão é de vários descaminhos neste período. 
O corte precisa ser profundo para o clube conseguir honrar seus compromissos.
Vamos ver se o Cruzeiro conseguirá ser um novo clube ou um remendo enfraquecido dos erros que o levaram à inédita queda.

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