Poesia da Semana, Boa Semana a todos!

A tristeza é minha companhia
Não sei de onde vem
nem muito menos para onde vai me levar
Tudo que eu sei
e como sei
é que na hora mais vazia
ela está ali
a me acompanhar
puxando minha mão
aparecendo com intensidade
aguçando minha percepção
me colocando numa névoa de tristeza
de um pantano distante
no meio da escuridão
E não é por não ter ou não alguém
e sim por não ter a mim mesmo
os anos passam
chegam de mãos dadas com a idade
levam meus fios
minha juventude
e cada vez mais
minha felicidade
que o tempo todo só me ilude
a pele não resiste ao tempo
mas antes fosse essa a única adversidade
dificil é lutar
contra um adversário sem rosto
sem forma
sem idade

Despedida de um ídolo

Poucos jogadores na história de um clube brasileiro conseguem identidade com o torcedor. São raros exemplos como o de Rogério Ceni, Marcos e mais alguns poucos.

Nos anos 80 isso era bem mais comum. Afinal, como não se lembrar do Fluminense do casal 20, Washington e Assis, do meia Romerito, de Branco, Vica, Delley, Paulo Vítor. E o Flamengo então? Zico, Adílio, Andrade, Leandro, Nunes, depois Renato Gaúcho (que também fez história no Cruzeiro). O Corínthians de Biro-Biro, Edson, Ataliba, Zenon, Serginho (o mesmo que jogou por Santos e São Paulo). O Temido Atlético do mesmo Zenon, Reinaldo, Paulo Isidoro, Sérgio Araújo, Éder, João Leite.

Pois é, são muitos exemplos daquela época, e um desses ícones e ídolos de clube atuais que não mencionei ainda aqui pendurou as chuteiras no dia 4. Trata-se de um jogador que não é brasileiro, e que, mesmo com esse porém, conquistou uma nação estrelada. O jogador Juan Pablo Sorin chegou ao Cruzeiro desacreditado pelos torcedores em virtude da longa negociação, que transpareceu que ele não quisesse jogar aqui. Mas tudo isso foi só impressão. Dono de uma garra única e elegendo Belo Horizonte sua segunda casa, Sorin tem o dom de emocionar o torcedor. É dele a carta a seguir, escrita após sua saída do clube para jogar no exterior, após a vitória da Copa Sul Minas em 2001. É de emocionar...

"Há quatro meses conquistamos a Copa Sul Minas.Há quatro meses fui embora do Cruzeiro. O texto abaixo escrevi para mim, porém, senti a necessidade de compartilhá-lo com vocês. Simplesmente para que saibam a importância que tudo isso tem na minha vida. Simplesmente para seguirmos juntos, apesar da distancia.Hoje, estréio em meu novo time. São muitas as expectativas e as vontades de sempre, mas esperando um dia retornar a minha segunda casa.

15:58 hs – Banderas en tu corazón (Bandeiras no teu coração).

Setenta e cinco mil caras esperando ver o Cruzeiro campeão. Saímos rodeados de mascotes e crianças, que nos acompanham sempre com um sorriso. Pegamos forte e corremos para o gramado. Uma olhada rápida, mãos para o alto e as primeiras emoções. Não é comum e é até anormal muitas camisas argentinas, celestes e brancas, no Brasil todas sentimentalmente distinguíveis. Chegam as placas de homenagem. Primeiro, do presidente. Depois, da Máfia Azul e logo uma camisa inesquecível com o meia dúzia nas costas, assinada por todos os funcionários do clube. A melhor homenagem, da cozinheira ao roupeiro, os encarregados da limpeza, até meus colegas, médicos, técnicos...Vale ouro! Vale mais suor, ainda!

Sorteio a moeda da Fifa. Deu branco e ganhei. No segundo tempo, atacaremos junto ao grosso da nossa torcida. Antes de começar toca o hino brasileiro. Todos cantam e eu não. Procuro minha companheira e concentro-me em silêncio. Observo a torcida e na arquibancada há uma bandeira argentina. Que orgulho! Não posso acreditar. Onde estão meus amigos do bairro para contar-lhes? Jogam balões para os céus com meu rosto estampado numa bandeira vertical. É minha despedida, a parte da final. Contenho as lágrimas, soa o apito.

16h20 - Sarando as feridas

Meu Deus! Um choque forte, toco a sobrancelha. Sangue. Puta que pariu! De novo? Quarto corte na cabeça em dois anos e meio. Queria jogar e o juiz reserva "canarinho" disse-me que não! Quase pede minha substituição e disse-me que há muito sangue. Peço-lhe por favor. Hoje, não me deixes de fora, irmão! Ele não entende bem, mas me permite entrar e lá vou eu como um "papai smurf". Serão seis pontos no intervalo, 0 a 0, com uma bola na trave e um susto forte.

17h40 - Oh meu pai, eu sou Cruzeiro meu pai...

Tira a camisa! Tira a camisa! Parece uma bola perdida, mas sei que o Ruy vai ganhá-la. O "cabeção," meu amigo e parceiro de quarto, vai tocá-la por um lado e buscá-la pelo outro (fez uma gaúcha, berra o locutor). Entra na área e só rola para trás. Não sei o que faço aí, a não ser confiar nele. Não sei o que faço senão ir além do sonho da despedida e não há tempo para pensar. Com três dedos e meio esquisitos de prima, com a sempre canhota bendita e a rede se mexe, é o mundo que explode, vem o delírio, a festa...

Não pode ser real. As cabecinhas que pulam descontroladas, a camisa voando na mão e um grito eterno, inesquecível, uma dança especial.

17h55 - Ah, eu tô maluco!

Bicampeão! Faltam segundos e não existe sensação comparável como a de ser campeão. Nos olhamos cúmplices com o Cris e rimos da conquista depois do esforço. Somos irmãos, somos um punhado azul de raça inquebrantável, enquanto o pessoal na arquibancada baila, grita, goza e por fim estoura com o final.

Escuta-se um estrondo inconfundível. Um abraço, dois, um milhão, a correria perdida, louca, entre pulos, festejos com cada companheiro, Toninho, Valdir, Tita e Bolinha, todos malucos. De repente um cara me leva nas costas e damos a volta olímpica.

Não quero que isso termine e penso se pudesse parar o tempo nesse instante, mas não posso. E aí, vou dando-me conta que também é o final para mim, que estou indo embora do meu time, da minha cidade, da minha gente.

Então, vem a enorme emoção e comemoro como sempre, desenfreado, sem limites, como se fosse a última vez. Comemoro e cumprimento cada canto do maravilhoso Mineirão.

Despeço-me e quero abraçar a todos. Quero que dêem a volta conosco, quero dizer-lhes que eles não sabem como necessitamos de todos aqui dentro. Vejo as faixas e ainda não acredito. Vejo os rostos de alegria e até hoje nada sai da minha mente.

Depois de tudo, a surpresa com a presença de minha mãe exatamente no Dia das Mães e é impossível não chorar. Finalmente, recebo a Copa tão desejada.

É bonito ser capitão. É grandioso ser capitão do Cruzeiro e ser campeão. Levantamos a taça, desfrutamos e saímos a oferecer aos milhares que estavam por todas as partes até o cansaço.

Imagino Minas.

Imagino Belo Horizonte.

Tudo se acaba e não podia ser tão perfeito. Será que sonhei? Nem um sonho seria tão incrível. Estou partindo e pensando se algum outro dia serei tão feliz!"

Juan Pablo Sorín


Na seqüência, vídeo de momentos do jogador. Ah, faltou mencionar que Sorin, o argentino Sorin ama tanto o Brasil que quis que sua filha nascesse aqui e é aqui que ele escolheu para morar. Assim como Milton Nascimento, assim como Gonzaguinha, apaixonados por essa BH que sinto tanta saudade. Simplesmente não tem explicação...





Dê valor as pessoas importantes

Dependo de sua ajuda
assim como dependo de sua compreensão
dependo de uma mão que acuda
nos conflitos
da mediação
Precisei tanto de tanta coisa
te chamei aos gritos
quando o choro abafava minha voz
puxava o ar
pedia socorro
mas existiam muitos nós
tentei te chamar
pedia socorro
mas a distancia era enorme
e o desespero
me sufoca
enquanto eu aos poucos morro
agride a alma
enquanto você me ignora
minha solidão
anda pelo carro, cidade afora
Para não ouvir seu não
fiquei sozinho
devorando minha desilusão
com vinho
prato cheio
interminável
de gosto amargo
do questionamento do destino
da lágrima da contradição
certas pessoas são como nosso chão
me dão a presença
me confortam mesmo com um não

Caso do "humorista"

Era uma vez um programa de televisão que costuma tirar sarro de feios, desdentados e artistas de outras emissoras, entre outras coisas criativas e muito mais engraçadas. Nesses descaminhos da vida, eles encontram uma "pessoa da rua", com claros problemas mentais (não precisa ser médico, basta olhar por pouco mais de um minuto para perceber) e pronto!! Estão garantidas as próximas edições do programa. Há um novo palhaço no circo da TV. Repetida centenas de vezes nas edições seguintes, a frase do rapaz vira hit de celular, argumento da criançada (que pasmem, não tem nada um pouco mais inteligente pra falar) e mais um dos jargões nacionais. A rotina desse homem muda, mas ele continua deficiente mental, afinal esse é seu ganha pão agora, ele ganha para ser palhaço, motivo de riso. Ele nem sabe disso, mas é.
Então eis que surge a notícia do seu envolvimento com drogas. A imprensa detona o rapaz, bombardeando noticiários com o acontecido. Afinal o próprio programa sempre foi implacável com problemas dos outros, em que registrem-se os sarros tirados encima de apresentadores da própria casa, como Fernando Vanucci, Ronaldo Ésper e o falecido Clodovil.
Fiz questão de ligar a tv e assistir o programa para o qual o rapaz "presta seu(s) serviço(s)".
Tratado como humorista e uma "verdadeira máquina de jargões" pelos produtores, a edição do programa buscou explorar o lado humano do homem de uma frase só, o mesmo lado humano que não existiu quando ele passou a ser motivo de sarro nas matérias. Agora ele era o coitado, o homem sem maldade, o humorista criativo.

Para quem se pergunta o porque dele se meter nessa eu faço mais uma pergunta. O que mais poderia se esperar de um homem com sérios problemas mentais e que vira celebridade da noite pro dia? Que ele, com o dinheiro ganho fosse procurar um psicólogo ou se auto internasse em uma clínica?

Será que na ânsia de ter um motivo de sarro, eles mesmos (os produtores do programa) não se esqueceram do lado humano do rapaz? Será que esses produtores são tão inocentes que não imaginaram que ele poderia já ter, como tinha, qualquer envolvimento com drogas? E vão dizer que ninguém percebeu que o cara era viciado? Pelo amor de Deus!!

A outra pergunta que quero fazer é: quem é o manipulador e quem é o idiota nessa história? Agora fica muito fácil usar o tema drogas para alavancar a audiência e divulgar que o governo precisa ajudar os viciados, entre outros blá blá blá. Imagino que o pensamento agora por parte dos produtores seja: que proveito podemos tirar disso? Porque depois de tantos anos no ar, o programa veste a pele de cordeiro e pela primeira vez orienta os jovens. Agora pode?

Porque se fosse pensado unicamente no bem estar do coitado, a primeira coisa seria isolá-lo da super exposição televisiva, como já corretamente se procedeu com artistas como Fábio Assunção, além do comentarista Casagrande. O rapaz está tão desnorteado que, para responder que queria largar as drogas teve que ser insistentemente orientado pelos apresentadores.

Mas o lado humano dá retorno de audiência, é só conseguir um tratamento pro rapaz, que continuará com problemas mentais, afinal esse é o motivo dele estar ali, filmar a vida inteira do mesmo e sugar tudo que se pode. O espectador, sem um mínimo de poder de análise pensa: "que legal eles ajudarem o rapaz né". O homem de uma frase só agora é ser humano, foi promovido.

É, vai achando que se faz alguma coisa de graça nesse mundo. Eles fazem de tudo para você ficar bem na frente da tv e que, de preferência não questione, só assista... sem contar que deturpam a realidade de uma tal forma que você passa a querer acreditar, de tão bonzinhos que eles aparentam estar sendo.