Em Qual (is) Lado (s) Você Está?


Eles e o passado

Ela acorda mais cedo
Levanta como se não houvesse alguém do lado
Mas há
Vai a cozinha
Arruma as coisas
Não se incomoda em estar sozinha
Pelo contrário
Já se basta pela sua própria companhia
Toma banho, olha o celular
Olha de novo, pesquisa perfis
Tem muito a ver, curtir e até mesmo compartilhar
O pacotinho de ideias prontas para melhorar o mundo
A posição política para o fútil mundo virtual
Mas não enxerga a confusão psicológica e ideológica
Em seu próprio lar
O morto que faz peso do outro lado cama se levanta
Vai ao banheiro
E a atenção dela segue no celular e na televisão
Conversar, mostrar afeto, nem sequer faz menção
Trabalha o dia todo
Sem desenvolver o mínimo de preocupação
Tem suas prioridades de sempre, acima de todos
Enquanto ele trabalha o dia todo, fugindo da depressão
É o momento em que ele pode rir sem sentir a dor da desconsideração
Onde sua opinião é importante
Em casa, ele não consegue ser merecedor de nem mesmo um carinho
E se recebe, como perceber o perfume das rosas
Se por todo o longo caminho, há dores, sangue e espinhos?
No fim de noite eles se encontram
É hora de um sono, que só aparece depois da televisão e do celular
Ela vai deitar primeiro
Deixando-o com um universo de coisas para falar
Ele chora, escreve
Vai à exaustão
É hora de se deitar
É uma noite de sonhos perdidos
Amanhã, tudo se repete
Repete um passado de referência num passado
Do qual ela não vê sentido em ser alterado
Uma automatização destrutiva
Para quem, no campo florido do amor
Nunca teve isso como tema de aprendizado
Para o mundo, nada revelado
Fotos em redes sociais
Títulos, papéis sociais
E assim a vida continua
Até que para ele, o nunca se funda ao jamais.

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