Aquele Grande Momento da Vida

O 11 de junho será sempre um dia a ser lembrado com muito carinho em minha vida. E eu te conto o porquê.
Pois simboliza um encontro com a personificação de toda a minha inspiração, seja ela em textos, em ritmos e interpretação musical e mesmo como referência do que acredito em letras e conceitos.
O 11 de junho de 2019 começou há aproximadamente 30 anos, quando em meio à tantas informações, na efervescência da adolescência - "Ideologia, eu quero uma pra viver" - encontrei na soul music uma luz no fim do túnel - Um ritmo sem rótulos, sem estereótipos, um diamante puro e por si tão simples e tão grandioso, que tanto tinha a ver comigo.
Que orgulho em saber que não era sozinho no mundo e que muitos dos meus sentimentos eram representados em versos de tantos cantores talentosos, como Marvin Gaye, Daryl Hall, James Ingram, Barry White, Billy Paul, George Michael, Gladys Knight e outros que mesmo sem serem "soul raiz", eram muito ligados e influenciados pela energia. 
O ambiente era de músicas com um romantismo baseado numa valorização do amor, com todos os seus elementos, como o erotismo (sim porque não?). Sexual Healing, música de Marvin Gaye que ao pé da letra fica como "tratamento sexual". Mesmo assim tão romântica...
O fim dos anos 1980 e o começo da década seguinte traziam o pavor de Aids mortal, forçando alguns a refletir sobre o próprio comportamento e outros a analisar para qual rumo o mundo iria.
Para um adolescente que viveu nesta época, analisando musicalmente o contexto, o soul se fortaleceu, pois se libertou por via de regra de um certo excesso na erotização de algumas músicas.
Estava em mim consolidada de vez uma fonte de inspiração e um lema de vida. Não teve um namoro que não tivesse inspiração nas músicas, nos acordes, nas interpretações.
Nesta época, em um ritmo marcado por negros e suas talentosas máquinas vocais, um dupla da Filadélfia me atingia em cheio. Os caucasianos Daryl Hall & John Oates colaboram para a disseminação de um estilo até então estereotipado aos negros. Daryl Hall, Mick Hucknall (Simply Red) e George Michael ajudaram a quebrar os paradigmas. Eles conseguiram o feito de fazer suas músicas tocarem em rádios até então que tocavam exclusivamente músicas cantadas por negros.
Desde então, não houve um dia sequer em que não acompanhasse, ouvisse, escrevesse ou me inspirasse em algumas das canções destes caras. Ok, eu admiro demais a genialidade de Michael Jackson, Whitney Houston, Duran Duran, Paul McCartney, Madonna (em sua fase produtiva), Bowie, Billy Joel, Prince, mas nada comparado aos citados anteriormente, incluindo as divas Gladys Knight, Toni Braxton e Roger Hodgson (ex-Supertramp) dos quais sou fã, salvo outros que esqueci.
Os baques das perdas foram intensos, como estes imortais morreram? Assim foi com Michael Jackson em 2009, Whitney em 2012, Bowie, Prince e para minha incredulidade, George Michael em 2016.
Dos vivos, ainda restavam o Simply Red, num período sabático e a dupla Daryl Hall & John Oates. Porém jamais imaginaria que, aos 70 e poucos anos, eles viriam para um show no Brasil. Então, meio que conformava com isso. Até que no início do ano, uma postagem no facebook informava sobre um possível show deles no Chile. Corri ver preços de passagem pro Chile, era a grande oportunidade da vida.
Mais algumas semanas e uma informação me encheu de expectativa. Com mais de 40 anos de carreira, aqueles caras que ouvia a mais de 30 anos estariam, finalmente no Brasil, para um único show, em São Paulo.
Comprei o ingresso no dia que foram abertas as vendas, em Março e fui contando os dias. Não dormi na noite anterior, o tempo não passava. Chegando ao local do show, só me permiti ir ao banheiro e fiquei na melhor posição que consegui e de lá não saí.
Não dava para saber o que eu sentiria ali. Me cobrava por não iconizar demais as pessoas, talvez fosse Jesus me orientando rs. Mas eu senti a energia deles ali desde quando entrei.
Uma vinheta de abertura do show foi elevando a adrenalina. Uma voz anuncia, Daryl Hall & John Oates e entra a introdução de "maneater". Primeiro entra a banda, depois o baixinho John Oates, e o mais esperado para delírio incontido de todos, Daryl Hall. Aquele setentão loiro, magro, com uma simpática barriguinha, a guitarra no ombro, o cabelão de sempre, a jaqueta de couro preta esticou a mão direita e o mundo cai naquele Espaço das Américas.
Um misto de realidade e ilusão se alternavam em minha mente. O cara que frequentou os ambientes com os maiores cantores da história da música ali, a poucos metros de mim. Um "ow yeah" na introdução da música me fez estar grato por estar vivo e ali. Cada sorriso, cada brincadeira com o público, para mim parecia uma entidade divina, e tenho certeza que ele sabe que as pessoas o sentem da mesma forma.
Claro que o show valeu cada centavo e que, na madrugada, eu também não dormi. Diante de tanta coisa boa que a vida me proporcionou, estar no mesmo ambiente que este cara, vendo o ouvindo tudo ao vivo é uma das, senão a maior alegria da minha vida. Está tudo guardado para sempre aqui no meu coração e penso que este energia se agrega à minha, pois é nela que me agarro quando as tristezas tentam obter espaço. Segue o vídeo do show, a abertura foi com 1m48s e o alto batendo palma de camisa azul é este que lhe escreve rs. E depois tem uns presentes que eu me dei para nunca esquecer da data.



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