Poetas e a busca por empatia

Dias desses me deparei com a seguinte pergunta? “Seriam os poetas sofredores por essência?

Primeiro, fiquei envaidecido, porque há uma análise de que eu possa responder como um poeta, não me considero necessariamente um, mas vamos lá...
Pensando bem e trazendo para a linha que mais me agrada, que trata das “sentimentalidades descodificadas pelas palavras”, penso que quem se proponha a escrever seja um potencializador de sentimentos, que podem ou não ser relacionados a si, mas que sim, carregam muito das suas percepções, indo muito além de um descritivo caprichado.

Em muitos casos, entendo que a arte de escrever seja um divã virtual, uma forma de a pessoa poder se expressar sem ser julgada, interrompida. Em outros, é uma maneira de desabafar, de “chorar pelos dedos” enquanto percorre as letras do teclado – um analgésico contras as duras dores da vida.

Por muito tempo, fui um médium de situações alheias, deixando em paralelo a essas situações alheias, meus pitacos despretensiosos. Por isso, postar no blog é tão libertador. A sensação de você poder escrever quando e como quiser, sobre o que quiser e sem a preocupação de que será cancelado por milhares de leitores é libertadora.

O blog é como uma praia de difícil acesso. Por isso, me sinto à vontade quando venho a ela. E isso não me desmerece de maneira alguma, pelo contrário, é o que mais me faz manter um blog depois de tantas décadas.

Pelo menos nas últimas três décadas atuando em vários campos de trabalho, creio que o que mais me enriquece é poder conversar com as pessoas de diversas culturas, experiências e visões de mundo. A docência e a assessoria de comunicação colaboram muito para isso, pois o exercício dessas atividades colabora para o moldar o meu ouvido e a mente com foco na construção de um diálogo que faça sentido para quem ouve, que acolha, aqueça, acalme, ensine e oriente.

Por outro lado, esse exercício de hipersensibilidade me faz, em alguns momentos, orar para que alguém no planeta desenvolva o mesmo tipo de empatia. E se essa pessoa estiver mais perto de você, melhor ainda. O problema é que empatia é um artigo em falta no mercado.

Expor suas carências – sim, sou ser humano e tenho essa e outras centenas de particularidades – e ser subjugado e às vezes nem sequer ser ouvido ao descrevê-las é uma das sensações mais frustrantes da vida para mim.

O diálogo quando começa, se inicia assim: “É, eu imagino como você se sinta...”

Não, você não tem noção, nunca terá. Só me ouça, diga que está do meu lado e isso já me ajudaria. Mas eu precisaria falar isso?

Então, o blog para mim é uma busca de expor minhas ideias sem a decepção da falta de acolhimento.

Consegue imaginar a dificuldade que é para um comunicador ter que frear com os dentes as palavras toda vez que expõe uma sentimentalidade?

Já cheguei a ouvir que devo ajustar a minha expectativa em relação aos outros. Mas o que os outros – e me refiro a algumas poucas pessoas, poderiam ter feito para me acolher um pouco? Falo no passado porque não imagino que isso venha a ocorrer, então quanto o estoque lota, eu esvazio o armário e trago tudo para cá.

Sigo com fé, grato por cada minuto, trabalhando minhas dores e tentando me manter feliz e ativo.

Até

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