Separações e Declarações

Há quase dois anos, uma notícia mexeu com os pilares da música pop internacional. Ainda que aqui no Brasil não tenha saído muita coisa sobre, o consolidado mercado de musical adulto contemporâneo norte-americano e europeu balançou com a notícia de “questões judiciais” entre os cantores que fazem parte da dupla mais bem-sucedida da música mundial: Daryl Hall & John Oates, de quem sou assumidamente fã desde que me entendo por gente.

A notícia se alastrou por sites especializados, mas pouco ainda se sabia sobre. Indícios de que os objetivos já não caminhavam para o mesmo sentido ficaram claros nas entrevistas de Daryl. Em um videocast, o cantor definiu seu trabalho com Oates como uma parceria de negócios e não uma parceria criativa, o que deu início à uma onda crescente de entrevistas nessa linha. Os elogios e até mesmo das defesas da relevância do parceiro na dupla desapareceram por completo. Lembro que eles se conheceram ainda adolescentes e desde garotos têm cantado juntos, com alguns discos solo lançados por cada nesse "meio tempo de 50 aninhos".

A discussão, de acordo com os sites especializados, se dava pela iniciativa de John em vender o catálogo da dupla. Daryl alegou não ter sido consultado e entrou com uma ordem restritiva, afinal é sócio do parceiro da empresa que atualmente detêm os direitos de Hall & Oates.

Enquanto notícias pingavam, cada um seguiu seu caminho. Daryl uniu forças com Dave Stewart (mentor e metade do Eurythmics) e lançou o álbum “D”, no ano passado. Nas entrevistas de divulgação, uma nova série de declarações contra o ex-parceiro, diretas ou indiretas, deixando clara a satisfação de Daryl em contar com um parceiro criativo, relatando inclusive que, há mais de vinte anos, ele não tinha isso com Oates.

John, por sua vez, realizou parcerias, saiu em turnê e, mais recentemente também lançou seu trabalho, Oates.

Nos últimos meses, coincidentemente ou não, ambos vem fazendo uma turnê de entrevistas em podcasts, o que gerou revelações que evidenciam que o fim da dupla não era uma mera questão de negócios, mas de que, após mais de 50 anos, um não suportava mais o outro.

O antes sempre polido John Oates aumentou a acidez de suas respostas, com frases como “esse barco já passou”, ao definir uma possível reunião da dupla. Daryl, por sua vez revelou que coube a John o “pedido de separação”. E vai mais longe, afirmando que, após a pandemia, ele não conseguia mais reconhecer John.

Ambos são bem econômicos as explicarem as questões do imbróglio judicial, justificando que há restrição judicial de informações sobre o caso. Porém, sites internacionais dizem que um acordo já vem sendo costurado para que de fato as obras da dupla sejam vendidas à uma empresa fonográfica, prática aliás que vem se tornando cada vez mais comum na música pop, envolvendo nomes como Rod Stewart e Bruce Springsteen por exemplo.

Porém, por mais que a separação já seja dolorida para os fãs, as declarações de ambos os lados esquentaram ainda mais nesse mês. Daryl, em entrevista ao podcast The Magnificent Others, de Billy Corgan (vocal do Smashing Punpkins, lembra?) relatou seu descontentamento, sua mágoa pela atitude de Oates e que, se pudesse voltar ao tempo, teria feito tudo diferente, sem ter dado tanto ouvido às pessoas. Em outras entrevistas, Daryl utilizou palavras como traição, e deixou claro que não aceitou bem a separação, reafirmando que a decisão pela separação partiu de John Oates.

Porém, a grande bomba, em meu ponto de vista, veio dos lados de John. Em entrevista ao podcast Zach Sang Show, John foi direto em suas declarações, diferentemente das entrevistas polidas de outrora, nas quais chamou Daryl de irmão.

Ao ser questionado a respeito de uma eventual reunião da dupla, John disse não. Dentre as justificativas, Oates afirmou que odeia ter que cantar os sucessos ao vivo sem a intensidade com que os mesmos foram gravados. Uma argumentação que indiretamente desqualifica o recente “momento vocal” de Daryl, que é quem canta quase a maioria dos sucessos da dupla.

De fato, ninguém é imune às ações do tempo e, ainda que um excelente cantor, Daryl teve a interpretação impactada pela idade. Não é incomum encontrar análises em canais do Youtube debatendo o desânimo que o cantor, próximo dos 80 anos, tem demonstrado nos shows. O que esse pessoal quer afinal?

O que fica claro é que ambos querem mostrar que estão bem e realizados. Porém a mágoa fica mais evidente pelos lados de Daryl. John, por sua vez, descreve com mais felicidade o momento, em que finalmente ele pode ter autonomia sobre sua carreira e, principalmente ser protagonista de sua história no mundo da música.

A grande verdade é que esses caras beberam da fonte dos maiores cantores de todos os tempos, não precisam provar mais nada para ninguém. Foram bem-sucedidos: shows lotados, milhões de discos e Cd´s  vendidos e, hoje,  têm todo o direito de fazerem o que bem entenderem.

Para os fãs, ficam as dezenas de hits da dupla, e para mim, fica também a lembrança especial do icônico show deles no Espaço das Américas, em São Paulo, no dia 11 de junho de 2019.

Fica também um pouco de tristeza, sentimento semelhante ao vivido por outras separações da música pop, como as de Rick Daves (falecido recentemente) e Roger Hodgson, do Supertramp, e de Roland Orzabal e Curt Smith (Tears for Fears) – esses felizmente de volta como dupla.

Quanto a Hall & Oates, considerando a idade deles e as dores relatas, não há esperança de possamos vê-los juntos de novo, infelizmente. Mas esses velhinhos bem que podiam pelo menos ficar amigos de novo, o que você acha?

Resta agradecê-los por terem sido meus companheiros de trilha sonora: na dor, no amor, no sorriso, em parte considerável da minha vida.



Nenhum comentário:

Postar um comentário