“Eu ando tentando ver o lado zen”

Esse trecho da música de Lulu Santos sempre me chamou a atenção, mesmo quando eu só tinha o lado zen para ver. Não via as pedras no caminho, pois a minha ignorância misturada com inocência só me permitia compreender que o mundo era belo, se é.

E eu sei que é belo, mas parece que, a cada ano, surgem novas dificuldades, novas tristezas, os problemas parecem cada vez mais impossíveis de se solucionar, e a vida em meio a tudo isso que siga.

E eu não quero parecer ingrato, revoltado com Deus e nada do tipo. É um presente estar aqui, é um presente poder viver com saúde, poder trabalhar, ainda que eu tenha tido alguns perrengues médicos nesse início de ano.

Mas parece que eu estou ficando mais quieto, com mais marcas e cicatrizes das brigas, das situações tristes que antes saiam sem precisar de água. É tanta coisa que eu achei que tinha superado, é um metrô lotado de fantasmas nos meus pensamentos, que isso muitas vezes me causa um eclipse de tudo que tenho de bom, que fiz e faço de bom e do que ainda possa fazer de bom.

Somado a isso, me vem uma saudade enorme de quando toda a minha família estava em casa. Quando a minha mãe estava deitada de lado na cama assistindo a TV, e cada um estava no seu canto - mas junto, no mesmo teto, cuidando dos cachorros e dos passarinhos.

E não sei porque me cobro por não ter sido mais grato em ter vivenciado aqueles momentos. Ainda que seja.

De alguma forma, dentro da minha ignorância / inocência eu achava que aquilo seria para sempre, que a minha mãe não partiria, que eu mesmo sairia de casa para me dar chance de aquecer meu coração, fazendo parte de uma nova casa, talvez formando e criando uma nova família.

Parece que ter que me desprender disso levou partes de mim que eu remendei, mas não consertei. É o tipo: “Caiu? Levanta que a vida não para”. O que é fato é que não sei de muita coisa sobre mim, mesmo sabendo que já passei da metade da minha vida.

É a mesma ótica que tenho quanto à minha vida profissional. Eu me considero tão afortunado profissionalmente falando, não por ser rico (não sou) mas por poder ter o prazer de fazer as coisas que gosto, e como eu gosto.

Mas, assim como na vida pessoal, eu olho para trás e já lembro das dificuldades. Lembro de agressões verbais, dos mais variados tipos, inclusive uma que não superei até hoje, de 2021.

Sim, eu sei que o mundo e as pessoas são assim mesmo. Eu só questiono, lamento e sofro do porquê de eles serem assim.

Me cansa também, e até me causa uma certa dose extra de incompreensão o tanto que eu zelo pela minha sanidade e o quanto as pessoas não cuidam dos seus próprios cacos. Eu nunca quis me abrir, porque eu sempre ouvia um monte conselhos de gente com uma vida toda em frangalhos querendo me colocar nos trilhos. Mas quando eu quis, nunca fui ouvido e fato, nunca me senti priorizado e acabava me sentindo como um cara cujo time venceu de goleada chegando em um velório.

E aqui eu fico triste de verdade. Quando analiso quanto tempo da minha vida se foi, quanta coisa boa eu deixei de fazer ou viver por causa de problemas de outros. Eu sempre tive que entender os problemas de todos, mesmo que isso atrasasse a minha vida ou anulasse o que eu pretendia fazer. Isso é nobre, mas acho que no meu caso esses problemas e a compreensão dos mesmos ultrapassaram a casa 2. Me fizeram perder coisas importantes que eu queria ter feito naqueles momentos e não depois. E não foi uma, não foram 10 coisas, virou uma rotina triste.

E em muitos momentos eu me pego assim, olhando para o Sol, orando e pedindo forças. Uma parte minha desistiu de tanta coisa e uma pequena parte ainda acha que “há pedras no caminho, e o mundo ainda assim é belo”. Será que isso que é envelhecer? Olhar para o espelho e não se reconhecer internamente? Ter dó de si por não ter sorrido o tanto quanto queria, não porque não sentia felicidade, mas porque não podia, dado o julgamento míope de toda uma sociedade, que considera a felicidade uma infantilidade.

Ah gente, eu sei que não é fácil. E fica ainda mais preocupante quando fica mais conveniente me silenciar do que sorrir.

Um abraço e até a próxima! Se cuidem!

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