O comentarista esportivo e seus sentimentos

Hoje, quero tratar de um excesso de sentimentalidades que permeiam, em meu ponto de vista com um certo exagero, o comportamento de alguns colegas da imprensa esportiva.
Não quero e nem vou citar nomes, mas dia desses ouvi um comentarista de rádio, que também atua como apresentador de programa de esportes dominical na tevê abordar, na introdução de sua fala que está “se sentindo preocupado com o rumo que suas críticas (ácidas) vêm tendo nas conversas nas redes sociais”.

O que me intrigou logo de cara é que esse profissional admitiu não ter perfil em nenhum perfil nas principais redes. Então, como teria chegado a ele essa eventual repercussão? Ainda assim, alguém possa tê-lo alertado disso. Mas, tecnicamente, como ele mede o retorno de seu trabalho?

Na sequência, ele se justifica com o argumento de que “suas avaliações são profissionais e nunca para desmerecer pessoalmente alguém”, evidenciando que a situação de fato está difícil de administrar para ele.

Porém, no dia anterior, e ainda mostrando menos vulnerabilidade, o agora comentarista sentimental afirmou categoricamente e sem pudor algum, que entende que um técnico (citado com nome e sobrenome) não seria do “tamanho suficiente” para comandar uma seleção brasileira de futebol. Algo “nada pessoal”, pelo menos para ele (comentarista).

Nesse mesmo momento, tentei me colocar no lugar desse técnico e refleti como entenderia esse comentário sem mandar o comentarista para algum lugar ruim.

Confesso que estou tentando entender possibilidades que contextualizem essa sentimentalidade do comentarista “profissional”.

São poucas informações para uma análise mais concreta e fora do campo da subjetividade, mas temos um histórico dele.

Esse profissional fez quase que toda a carreira em uma empresa familiar e, salvo engano, nunca trabalhou em outro lugar, o que deveria ter feito. É o querido da empresa, aquele que entra sem ser anunciado na sala do presidente, do gerente e que, claro, goza de certos privilégios. É o cara perfeito, uma vez que nunca vejo ele mencionar questões como a evolução profissional por exemplo. Está sempre muito focado nos seus fazeres ao longo de quase 50 anos de carreira.

É daqueles que têm como arsenal de argumentos termos como: “quando fui chamado para essa empresa, disse que só faria isso”, ou seja, necessita de auto alimentação o tempo todo, já que esse reconhecimento se vem, nunca é na intensidade que ego dessas pessoas demanda.

Rádios e televisões têm muitos desses profissionais. O ego inflado é característico em vários profissionais da comunicação que ainda batem no peito e falam: “no meu horário da rádio”, ou “no meu programa na TV”, o que evidencia uma necessidade de autoafirmação que beira a patologia, como se tudo girasse em torno do talento dele. Como se suas vozes fossem a música dos anjos; como se só eles tivessem na garganta o dom divino de mudar o mundo.

Alguns até conseguem feitos interessantes, mas os desvalorizam quando parecem querer colocar um outdoor na cabeça, perdendo a noção do tempo ao elencar seus feitos.

Talvez teriam sido crianças criadas sem companhia, adolescentes do fundão da sala que gostariam de ser mais populares, nerds que queriam ser do fundão da sala, o que é claro é que existe alguma frustração aí, alguma paixão não correspondida.

No caso desse profissional, o microfone talvez seja uma oportunidade de ele externar sua opinião sem ser interrompido, ignorado. Um prato cheio para que ele possa mostrar que um profissional de inúmeras conquistas como ele também é gente.

O problema é que o comentarista esportivo está ali exatamente para essas opiniões. Deve ser ético, mas firme. Não deve ser bonzinho. Precisa ser assertivo nos comentários e, principalmente não ter rabo preso com ninguém.

As informações que me chegam dizem que esse profissional quer ter as duas coisas.

E aí, quando todos são humanos e se encontram em um restaurante, eis que ele encontra o profissional que ele, entre outras palavras, chamou de pequeno para a seleção brasileira. Diante na negativa desse profissional em ter diálogo com o comentarista, bateu no mesmo uma das reações que o profissional de comunicação mais teme, que é se sentir rogado.

Talvez esse comentário seja fruto de uma necessidade de que a sua empresa lhe dê um suporte para os comentários, ou mesmo que a própria empresa tenha o chamado para a famigeradas reuniões de alinhamento.

A realidade é que, há tempos, esse comentarista vem se alimentando do ego para avançar o sinal nos comentários, o que acabou fazendo ele se esquecer de que a maior parte da vida acontece fora dos seus programas no rádio e na tevê.

Aqui talvez entre minha maior crítica. É totalmente fora do contexto um comunicador iniciar seu programa evidenciando uma fraqueza. Esses profissionais são aclamados e condenados pelo tribunal da internet quase que diariamente, o que pode ser um sinal de que, talvez, e reitero aqui, talvez, esse profissional não tenha mais o psicológico preparado para atuar como comentarista, algo que a sua ofuscada autoanalise nunca vai permiti-lo enxergar.

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