Os comentaristas esportivos também sentem

Hoje, quero tratar de um excesso de sentimentalidades que permeiam, em meu ponto de vista com um certo exagero, o comportamento de alguns colegas da imprensa esportiva.
A intenção não é a de citar nomes, mas sim de evidenciar um paroadoxo de agressividade e sentimento exacerbado que envolve o ambiente psicológico daqueles que se propôe a opiniar sobre o desempenho dos outros.

Um dia desses ouvi um comentarista de rádio, que também atua como apresentador de programa de esportes dominical na tevê abordar, na introdução de seu programa, que está “se sentindo preocupado com o rumo que suas críticas (ácidas) vêm tendo nas conversas nas redes sociais”.

O que me intrigou logo de cara é que esse profissional admitiu não ter perfil em nenhum perfil nas principais redes. Então, como teria chegado a ele essa eventual repercussão? Ainda assim, alguém possa tê-lo alertado disso. Mas, tecnicamente, como ele mede o retorno de seu trabalho nos dias de hoje? Aqui, pode-se ter a impressão de um suplício oriundo de auto-piedade.

Na sequência, ele se justifica com o argumento de que “suas avaliações são profissionais e nunca para desmerecer pessoalmente alguém”, dando todas as letras de que ele não administra bem os chumbos trocados por externar suas opiniões.

Porém, no dia anterior, e com uma versão menos emocionalmente vulnerável, o mesmo comentarista afirmou categoricamente e sem pudor algum, que entende que um técnico (citado com nome e sobrenome) não seria do “tamanho suficiente” para comandar uma seleção brasileira de futebol. Algo “nada pessoal”, pelo menos para ele (comentarista).

Nesse mesmo momento, tentei me colocar no lugar desse técnico, de sua família e admiradores e busquei formar de compreender essa definição como algo extremamente profissional. Falhei nessa missão.

Creio eu que a repercussão desse tipo de comentário, assinado por esse comentarista não tenha caído bem em alguns lugares. Tudo bem que o comentarista tem que ser independente, mas como tudo na vida, às vezes se perde a mão. Algo como a criatura devorando seu criador. 

Voltando à inconstância psicológica do comentarista, estou buscando subsídios para entender possibilidades que contextualizem essa sentimentalidade do profissional.

São poucas informações para uma análise mais concreta e fora do campo da subjetividade, mas temos um histórico dele.

Esse profissional fez quase que toda a carreira em uma empresa familiar e, salvo engano, nunca trabalhou em outro lugar, o que deveria ter feito, na minha humilde opinião. É o querido da empresa, aquele que entra sem ser anunciado na sala do presidente, do gerente e que, claro, goza de certos privilégios.

É o cara dotado de um ego enorme, que coloca suas experiências como ponto principal, que adora contar seus causos. É daqueles que têm como arsenal de argumentos termos como: “quando fui chamado para essa empresa, disse que só faria isso”, ou seja, necessita da busca incessante de bajulação e para tal, exagera no que entende como conquistas. É misto de protagonista com o comportamento de menino dono da bola.

Pessoas assim costumam mergulhar cada vez mais fundo nessa necessidade de contar vantagens, já que esse reconhecimento se vem, nunca é na intensidade que ego dessas pessoas demanda.

Rádios e televisões têm muitos desses profissionais. O ego inflado é característico em vários profissionais da comunicação que ainda batem no peito e falam: “no meu horário da rádio”, ou “no meu programa na TV”, o que revela nada mais que uma necessidade de autoafirmação além da conta.

Todos, em maior ou menor grau, sonhamos soar como o provedor da música dos anjos; mas sabemos que a realidade passa bem longe desse status.

Entendo como o conflito de século: o que você quer aparecer versus o que você é. E agora atualizado com a versão: o que quero das pessoas que tem de mim o que quero aparecer.

Talvez teriam sido crianças criadas sem companhia, adolescentes do fundão da sala que gostariam de ser mais populares, nerds que queriam ser do fundão da sala - o que é claro é que existe alguma frustração aí, alguma paixão não correspondida.

No caso desse profissional, o microfone talvez seja uma oportunidade de ele externar sua opinião sem ser interrompido, ignorado. Um prato cheio para que ele possa mostrar que um profissional de inúmeras conquistas como ele propaga, também é gente e gente, às vezes, também quer paparicado, adulado.

O problema é que não cabe ao comentarista, ou pelo menos não deveria caber esse tipo de sentimentalista, de auto exposição. Ele deve elaborar a sua narrativa com base na história de jogadores, técnicos, do jogo em si. Eles deveriam ser éticos, sem perder a firmeza. Não devem ser bonzinhos, e sim assertivos nos comentários.

Pois bem, lembram da história do treinador "sem tamanho"? Eis que esse comentarista encontra o treinador em um restaurante. Obviamente, o encontro foi distante, frio. E aí é até normal. Pelo menos até o fato de o comentarista se sentir abalado pela recepção do treinador. O que será que ele queria? Talvez um "obrigado querido, por falar que eu sou pequeno para a seleção brasileira. Isso me abriu os olhos".

E aqui voltamos ao relato do comentarista, sobre a repercussão de seus comentários. E ainda continuo com as perguntas: será que algum leão se arrependeu de ter caçado alguma presa?Nao seria de praxe que um comentarista lidesse melhor com opiniões contrárias?

Talvez o momento atual do comentarista não tenha nada a ver com isso, mas surge coo subterfúgio para que a sua empresa lhe dê um suporte para os comentários, ou mesmo uma contrariedade ao fato de supostamente a própria empresa tenha o chamado para a famigeradas reuniões de alinhamento.

A realidade é que, há tempos, esse comentarista vem se alimentando do ego para avançar o sinal nos comentários, o que acabou fazendo ele se esquecer de que a maior parte da vida acontece fora dos seus programas no rádio e na tevê.

Aqui talvez entre minha maior crítica. É totalmente fora do contexto um comunicador iniciar seu programa evidenciando uma fraqueza pessoal. Esses profissionais são aclamados e condenados pelo tribunal da internet quase que diariamente, o que pode ser um sinal de que, talvez, e reitero aqui, talvez, esse profissional não tenha mais o psicológico preparado para atuar como comentarista, algo que a sua ofuscada autoanalise nunca vai permiti-lo enxergar. E não é demérito nenhum isso. Eu escolhi escrever aqui, porque me sinto livre para opinar, sem polêmicas, quando sinto necessidade, e podendo ir à restaurantes de boa.


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