Costume do Abandono

Em muitos momentos de minha vida, aprendi a lidar, sozinho, com situações insuportáveis para certas pessoas. Em boa parte de minha adolescência, poucas foram as pessoas para as quais me abri.
Uma estima abaixo do mais baixo me fazia me sentir não merecedor de viver. E assim ia lidando com o fato de ser um mero espectador da vida. O lado bom de tudo isso foi aprender a não esperar de ninguém ato que me fizesse sentir acolhido. Minhas cachoeiras de lágrimas literalmente jorravam sem ninguém ao menos imaginar. E imaginar era o que eu mais fazia. Me embutia em mundos que não eram meus e neles me realizava. Neles eu era extrovertido, admirado, magro e bonito. Talvez isso tenha me feito viver menos, arriscar menos. Chegou a vida adulta e apenas os mundos de ilusão me alimentavam. Quantas eram as noites em que chegava em minha casa apenas para fechar os olhos e entrar em conexão com minhas estórias, me transferindo para meu imaginário e lá ficando. Gostava de dormir no meio dos sonhos e como era bom dormir num mundo absolutamente perfeito. Minha experiências pessoais foram acontecendo e muitas delas foram parecidas com o que sonhava. Mas o que queria falar não é bem isso. O fato de viver isoladamente deste modo, numa autossuficiência mental, acarretava no fato eu não sentir absolutamente falta de ninguém, afetivamente falando. Exceto pela minha família, não sentia necessidade qualquer de estar com alguém e ainda me indagava porque as pessoas davam até suas almas para ter ao mínimo uma experiência neste sentido. Eis que chegou a fase das paixões, embora não me achasse merecedor de tê-las e as tragédias que as sucederam só me fizeram carimbar na mente que melhor que o sofrer acompanhado era o viver sozinho. E bem que eu tentei mudar este conceito em minha vida, mas admito que foi em vão. Continuo com uma redoma constante, muitas vezes intransponível e dura com quem tenta transpassá-la. Como o casco de uma tartaruga. A cada acontecimento em minha vida pessoal, fico em silêncio. Porque as situações me ensinaram que não adianta ficar dividindo isso com alguém. E tento assim, à minha maneira, resolver os impasses dessa vida, por mais que ainda use as mesmas ferramentas que usava na minha pré-adolescência. Ainda sou muito mais o que o mundo espera de mim do que eu espero ser e ainda preciso achar uma maneira menos traumática de assim ser. Por outro lado, espero que a vida me mostre que ser mais afetuoso não vai me premiar com dor e lágrimas. Criei muitos traumas. Traumas estes que ninguém se preocupou em saber e nunca tive a menor necessidade de contar. É apenas um comportamento defensivo, de alguém que esperava mais dos envolvimentos sentimentais, desde quando nem imaginava o que um envolvimento sentimental significava. Por essas e outras, que o silêncio é minha opção preferida antes de eu simplesmente pensar em abrir a boca.

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